Na segunda metade do século XIX até 1890-1891, a economia portuguesa
continha dois processos paralelos: um processo benigno de crescimento efectivo
da riqueza levado a cabo pelos agentes económicos privados e possibilitado
por um padrão-ouro que estimulava o investimento produtivo e um
processo maligno de endividamento do Estado e de inflação do crédito
bancário (aparentemente estimulado por esse endividamento). Os dois processos
coabitaram durante quatro décadas e continuariam a coabitar enquanto
o Estado continuasse a ter quem acorresse a financiar o seu processo económico
maligno sem ter de interferir no funcionamento do processo benigno
da economia privada. De facto, embora o Estado incentivasse o desvio
voluntário de muitos capitais nacionais de outros investimentos potenciais
para a dívida pública, o grosso dos seus financiamentos era externo (divisas
da emigração no Brasil e banca estrangeira). Em 1890-1891, o processo
maligno entrou em colapso financeiro e teve de fazer o que evitara desde
1854: interferir no processo benigno e transferir dele o financiamento necessário
à manutenção das suas despesas. Com isto, a performance da economia
privada foi decisivamente afectada; e, assim, a crise financeira do Estado
tornou-se uma crise económica geral.
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