segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A crise financeira de 1891: uma tentativa de explicação - Luís Aguiar Santos

Na segunda metade do século XIX até 1890-1891, a economia portuguesa continha dois processos paralelos: um processo benigno de crescimento efectivo da riqueza levado a cabo pelos agentes económicos privados e possibilitado por um padrão-ouro que estimulava o investimento produtivo e um processo maligno de endividamento do Estado e de inflação do crédito bancário (aparentemente estimulado por esse endividamento). Os dois processos coabitaram durante quatro décadas e continuariam a coabitar enquanto o Estado continuasse a ter quem acorresse a financiar o seu processo económico maligno sem ter de interferir no funcionamento do processo benigno da economia privada. De facto, embora o Estado incentivasse o desvio voluntário de muitos capitais nacionais de outros investimentos potenciais para a dívida pública, o grosso dos seus financiamentos era externo (divisas da emigração no Brasil e banca estrangeira). Em 1890-1891, o processo maligno entrou em colapso financeiro e teve de fazer o que evitara desde 1854: interferir no processo benigno e transferir dele o financiamento necessário à manutenção das suas despesas. Com isto, a performance da economia privada foi decisivamente afectada; e, assim, a crise financeira do Estado tornou-se uma crise económica geral.


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