quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Analfabetismo



Considerando a população portuguesa com 10 anos ou mais recenseada ao longo do século XX nos anos dos Censos, encontram-se as seguintes taxas de analfabetismo: 

 1900 - 73%
 1911 - 69%
 1920 - 65%
 1930 - 60%
 1940 - 52%
 1950 - 42%
 1960 - 33%
 1970 - 26%
 1981 - 21%
 1991 - 11%
 2001 - 9%

 [Fonte: António Candeias et al. (2007): Alfabetização e Escola em Portugal nos Séculos XIX e XX. Os Censos e as Estatísticas, Fund. C. Gulbenkian, p.40; e Recenseamento da População e Habitação (Portugal) - Censos 2001 (quadro 1.03, População residente segundo o nível de ensino atingido e taxa de analfabetismo), Instituto Nacional de Estatística)]

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Mitologia Portuguesa



Trasgos
Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais. 

Zanganitos

Os Zanganitos são seres fantásticos, uma espécie de duende das lendas portuguesas, parecidos com os Trasgos e o Fradinho da mão furada, que vivem dentro de casa e fazem tropelias.

Fradinhos da Mão Furada 
O Fradinho da mão furada é uma personagem mítica de uma das lendas portuguesas, uma espécie de duende caseiro. É um ser que tanto concede favores e benefícios como engana e prega partidas. Tem na cabeça um barrete encarnado, entra nos quartos de dormir, durante a noite, através do buraco da fechadura das portas e escarrancha-se à vontade em cima das pessoas, frequentemente causando grandes pesadelos. 


 Tardos 

O Tardo ou Trevor é uma espécie de duende, um ser mítico do folclore popular português. O tardo também se chama de pesadelo ou tardo moleiro. O tardo vai importunar as pessoas que estão a dormir na cama que depois acordam com um grande pesadelo. O tardo pode aparecer na figura de um animal e frequentemente aparece na figura de um cão, gato ou cabra. O tardo quando aparece nos caminhos, nos regatos e nas encruzilhadas tenta deixar as pessoas intardadas (desorientadas) sem saber qual caminho seguir, mijando nas pernas das pessoas. Uma criança pode se transformar num tardo e correr o fado se o padrinho durante o baptizado não disser as palavras certas. A transformação terá lugar antes da idade da comunhão, aos sete anos. A criança antes de se transformar pendura a roupa na árvore mais alta de uma encruzilhada e transforma-se num animal. Se durante sete anos não lhe quebrarem o fado transforma-se em lobisomem. 


 Insonhos 

O Insonho ou pesadelo é um espírito ou uma bruxa do folclore português. Na cabeça tem um carapuço que quando alguém consegue lho tirar ele foge para o telhado e é obrigado a dar todo o dinheiro que lhe pedem até ele conseguir recuperar de volta o carapuço. O insonho tem uma mão muito pesada, "é um bicho que vem tapar a boca de quem está a dormir, mas como tem a mão furada não deixa morrer abafado". 


 Corredores 

Nas lendas portuguesas, o corredor é a pessoa que tem que correr o fado, quer dizer, durante a noite toda vai percorrer um caminho onde vai passar a correr por sete pontes, sete fontes, sete montes, sete encruzilhadas, sete portelas de cão. O corredor é um ser mutante, pode assumir a forma de lobo, de cão ou outro animal. Quando se encontra um, para quebrar o fado deve fazer-se sangue, isto é, fazê-lo sangrar. Dizem que uma pessoa se transforma em Corredor, se em criança, os padrinhos disserem mal o Credo no baptizado. Outra versão consiste em que, nascendo o sétimo filho numa família cujos filhos são todos do mesmo sexo, o primogénito tem de "correr o fado". 


 Mouras encantadas 

As moiras ou mouras encantadas são espíritos, seres fantásticos com poderes sobrenaturais dos folclores português e galego. São "seres obrigados por oculta força sobrenatural a viverem em certo estado de sítio como que entorpecidos ou adormecidos, enquanto determinada circunstancia lhes não quebrar o encanto".Segundo antigos relatos populares, são as almas de donzelas que foram deixadas a guardar os tesouros que os mouros encantados esconderam antes de partirem para a mourama. As lendas descrevem as mouras encantadas como jovens donzelas de grande beleza ou encantadoras princesas e "perigosamente sedutoras". Aparecem frequentemente cantando e penteando os seus longos cabelos, louros como o ouro ou negros como a noite, com um pente de ouro, e prometem tesouros a quem as libertar do encanto. Podem assumir diversas formas e existe um grande número de lendas, e versões da mesma lenda, como resultado de séculos de tradição oral. Surgem como guardiãs dos locais de passagem para o interior da terra, os locais "limite", onde se acreditava que o sobrenatural podia manifestar-se. Aparecem junto de nascentes, fontes, pontes, rios, poços, cavernas, antigas construções, velhos castelos ou tesouros escondidos. 


 Corrilários 

O corrilário é um ser lendário das tradições portuguesas. Os corrilários são as almas penadas em figura de cão. Transformam-se em corrilários aqueles a quem faltaram palavras no baptismo, os que deixaram promessas por cumprir ou sofreram morte violenta. Vai ficar como corrilário por tanto tempo quanto era determinado que ele ainda vivesse se não tivesse morrido prematuramente. Tanto percorre caminhos direitos como atalhos enquanto os lobisomens só andam por caminhos direitos. Se um lobisomem morre antes de terminar o seu fadário, depois de morto termina os seus dias como corrilário. 


 Peeiras 

Peeira ou fada dos lobos é o nome que se dá às jovens que se tornam guardadoras ou companheiras de lobos. Elas são a versão feminina do lobisomem e fazem parte das lendas de Portugal e da Galiza. A peeira tem o dom de comunicar e controlar alcateias de lobos. 


 Hirãs 

As Hirãs são seres do folclore popular português. São mulheres de cabeça muito grande e um corpo franzino. Quando a Hirã faz 12 anos de idade ela se metamorfeia em cobra e vai viver no mar. A Hirã é a ultima filha que nasce de sete irmãs. 


 Fontes: Wikipédia. - pesquisa obrigatória na obra de José Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal 


 Bibliografia:
Cuidar dos Mortos, de Carlos Alberto Machado 
 CrendicesMartins Sarmento 
A Mourama, Martins Sarmento

domingo, 28 de outubro de 2012

The Infant Jesus in a Baby Walker


“The Holy Family at Work. 92. From the Book of Hours of Catherine of Clèves, containing the prayers and litanies of the Mass in Latin, decorated with 157 lavishly colored and gilded illuminations by the Dutch artist, the Clèves Master, c. 1440, in Gothic style.”

quinta-feira, 25 de outubro de 2012




 Cultural contacts between Portugal and Italy, the two most innovative European areas in the 15th and 16th centuries are rarely systematically explored. Both were to influence the whole world for the next five hundred years: Portugal by its voyages of discovery and establishment of a world empire, and Italy by its reworking of the classical tradition and the rebirth of its arts. This book maps the cultural interconnections, exchanges, and influences between the two, their individual chronologies and priorities, similarities and differences. The volume's three emphases are originality, interdisciplinarity (it covers art history, history, language and literature) and internationality. The text allows a reassessment of exportability of the Italian Renaissance, and of Portuguese artistic hybridity.

A Ideia de Império



Império é força, trabalho e riqueza, é coragem, ideal e fé. Nunca poderia existir um império português baseado na candura. O império não se teria formado sem força, não teria nascido sem proselitismo idealista nem poder expansivo, sem luta, sem competição, e portanto sem sangue, nosso e de inimigos. Na formação do império português fomos grandes, muito grandes, porque dentro das ideias da época nos fizemos alguém no mundo, e poderosos contra a vontade do próprio mundo. Acolhemos amigos ou receosos da nossa inimizade, e esmagámos inimigos. Fomos bons e fomos maus, generosos e tiranos, justos e injustos, leais e traiçoeiros, valentes e cobardes, honrados e ladrões. Fizemos o que os outros fariam se pudessem, porque fomos em cada momento homens daquele tempo. Como homens de fé, quisemos espalhar nos infiéis a nossa crença, à força, e quem não aqueria aceitar tinha que morrer; era a época. Queimámos no mar navios cheios de inimigos, e o mesmo aconteceu a muitos dos nossos. Passámos a fio de espada populações inteiras e eles fizeram-nos o mesmo sempre que puderam. Uma vez o Vice-Rei mandou pulverizar num almofariz um dente de Buda apanhado em Ceilão e lançá-lo solenemente ao mar. Todavia pelo dente venerado os cingaleses davam tudo o que quiséssemos. A fé teve mais força que a cobiça e as ofertas foram recusadas. Não se julgue, porém, que a atitude do Vice-Rei não provocou largos protestos dos católicos portugueses que viam na relíquia oportunidade de vantajosos negócios para as dificuldades financeiras do Estado. Quando tomávamos cidades ou navios, roubávamos, porque era legítimo naquele tempo como hoje, pelo direito de guerra, tanto que o rei decretava para o efeito do regimento das presas em que reservava para si o quinhão que lhe pertencia só por ser rei. Tudo isto é o Passado, nosso e de todos os mais povos e não fomos piores do que eles. Dizer que o Império se não fez e engrandeceu à sombra de interesses materiais é uma colossal mentira. Nem compreendo que isso se esconda, porque não temos culpa de que os nossos antepassados se não guiassem pelas nossas ideias, nem eles são culpados de termos relegado as suas. O mundo progrediu e nós também. Portugal não é na Lua e tem sempre acompanhado o mundo e o desenvolvimento da civilização.

 Alexandre Lobato, Aspectos de Moçambique no Antigo Regime Colonial

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fundamentos de uma Nação Bélica

As ordenanças constituíam outra das instituições relevantes da sociedade local portuguesa, certamente uma das mais originais. Todo o reino se encontrava dividido em capitanias-mores de ordenanças, coordenadas por um capitão-mor, que devia ser o senhorio donatário ou alcaide-mor em terras onde existisse, coadjuvado por um sargento-mor. Cada capitania-mor dever-se-ia subdividir num número variável de companhias de ordenanças, chefiadas pelo respectivo capitão, com o apoio de outros oficiais. À hierarquia das ordenanças competia ter arrolados todos homens maiores de 16 anos, exceptuando os privilegiados e os velhos, para que pudessem, quando solicitados, ser recrutados para o exército de 1 . a linha ou ainda para operarem localmente como milícias quando tal fosse necessário, pelo que deviam reunir-se regularmente para receberem treino militar. Os ofícios de capitão-mor e de sargento-mor conferiam sempre nobreza vitalícia, qualquer que fosse a dimensão da capitania (os restantes, apenas enquanto eram exercidos), e exigiam um grande empenho a quem os exercia, pela natureza das tarefas requeridas e pela duração indeterminada do ofício. A estabilidade do ofício e o tremendo poder do recrutamento militar, de que eram depositários os seus detentores, constituem aspectos fundamentais para a caracterização desta instituição, ciclicamente criticada pela sua ineficácia e pelas opressões a que dava lugar . 

 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime

O Absolutismo no Sec XVIII - uma fase de transição?

A questão da modernização do Antigo Regime não se fica, de todo, pela questão do Iluminismo ou, no caso português, com a influência de Pombal. Terá havido de facto um Novo Antigo Regime, por oposição ao Velho Antigo Regime? É óbvio que se deram ocasiões de reforma e mudança nos regimes “absolutistas europeus”: apesar das acusações de “monarquias decrépitas”, “totalitarismos”, e outras prendas que os contemporâneos atribuem à principal instituição, a escola de governo absolutista criou nomes tão importantes para a história da Europa como Mazarino, Richelieu, Cromwell, Metternich, Chateaubriand e Talleyrand, e para os portugueses, nunca é demais lembrar nomes sonantes como Rodrigo Sousa Coutinho ou o duque Palmela. Assim, a capacidade governativa manifestava-se, de facto, pela capacidade de poder alterar a realidade institucional à sua volta. No entanto, penso que as principais alterações não se deram devido a um espírito inovador do Marquês mas devido à necessidade de reformar as antigas instituições portuguesas, de forma a preparar o país para uma nova era de desenvolvimento e a manter a sua importância na conjuntura europeia. Considerar o Marquês de Pombal como um visionário iluminado é um erro próprio da historiografia tradicional. No Dicionário de História de Portugal temos o começo de uma abordagem muito mais realista, que depois se repercutiria nas posteriores obras de História de Portugal. Da correspondência de Pombal dos seus tempos de Inglaterra, ou mesmo da Áustria, não é notável qualquer tipo de adolação do estrangeiro – aliás, a insípida carreira diplomática de Pombal pode estar ligada ao seu notório desgosto pela viagem e pela estadia em países estrangeiros, dos quais tinha um deficiente conhecimento da língua. 
A reforma educativa de Pombal não pode ser levianamente considerada, de todo, como laicizante, uma vez que Pombal não teve problemas em colmatar as falhas do ensino público estatizado por si imaginado com a contribuição dos principais rivais dos recém-expulsos Jesuítas, os Oratorianos, que ficaram com o monopólio da educação nos territórios ultramarinos (LOPES, 2006) As próprias reformas económicas do Marquês são maleáveis, em vez de ideológicas. Pombal não pregou um evangelho sistemático, como Mouzinho da Silveira e a sua “uniformização legislativa” (VALENTE, 2006), mas antes criou condições para a prossecução de um governo centralizado e moderno dentro dos moldes do Antigo Regime. Assim, das suas companhias de comércio, Pombal não teve grandes achaques em anular a grande maioria, ou negociar os termos originais dos monopólios estatais, tal como se deu com a Companhia dos Altos Vinhos (CARDOSO, 2003). 
A sua política livre-cambista teve bem mais efeitos, especialmente no desenvolvimento do Oriente, do que a sua política mercantilista. Na época de D. Maria I procedeu-se à discussão com os poderes regionais ultramarinos e reformou-se esse livre-cambismo (LOPES, 2006) – mas tudo na base da filosofia política do Antigo Regime, uma filosofia reformista e não-revolucionária, que está bem plasmada na frase de José Acúrsio das Neves: “As leis não têm força contra os hábitos da nação; (…) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios” (NEVES, 2008) 
A organização territorial do país não mudou drasticamente. Nem nada que se pareça. D. Maria I procurou reformar os forais e as sisas, de forma a agilizar o mercado interno(HESPANHA, 1994): mas essa reforma ainda estava a ser pensada, lenta e detalhadamente, em 1820. Os juízes-de-fora, braço da justiça estatal, só existiam em 20% do total dos concelhos portugueses, dos quais 1/3 podia impedir a entrada de corregedores enviados pela Coroa (HESPANHA, 1994). Os magistrados eram eleitos localmente e as primeiras instâncias estavam localizadas nas sedes dos ditos concelhos – que diferença com aquela época em que as comarcas judiciais eram distribuídas de acordo com um plano geográfico desenhado a partir de Lisboa, e o poder local dominado por um Governador Civil, ou Prefeito, designado de entre os pretendentes a pachás de Mouzinho da Silveira! (VALENTE, 2006). Os mesmos tribunais concelhios tinham poder para anular as disposições reais. 

Para percebermos todos estes dados, temos de compreender a total diferenciação entre o conceito de Estado para o Antigo Regime e para o Estado Liberal. Para o Estado Tradicional, “A ideia-base, é a de um Estado compreendido não como mero organismo, mas principalmente como organismo espiritualizado, capaz de elevar gradualmente desde uma vida naturalística quase pré-pessoal até uma vida sobrenatural e suprapessoal através de um sistema de participações e subordinações”(EVOLA, 1934), ou, se me permitem resumir, um Poder real limitado pelos diferentes estratos estatutários, cuja Constituição Política é o Produto Indisponível da Tradição, em que o Governo tem por principal dever manter esses equilíbrios estabelecidos. Que distância para com o Estado Moderno, neutral em vez de ortodoxo, universal em vez de particularista (como diria Alvaro D'Ors, inspirado em Carl Schmidt), pouco atreito à metafísica, assumindo-se como uma máquina burocrática desprovida de alma (contrariando a noção tomístico-aristotélica da natureza divina de todas as coisas, inclusivamente da Pólis), medida em termos de bem-estar material que tem como missão e legitimação a eficiência económica. Ora, ao longo do séc. XVIII, nunca desaparece a concepção sagrada do papel do Rei enquanto guardião da tradição religiosa e social do reino. A existência de instituições independentes ou semi-independentes (a Igreja, as Ordenanças, as Concelhias, a Universidade de Coimbra) constituía um sério contrabalanço ao poder estatal. Foi este delicado equilíbrio, formado por pluralismos administrativos, em que o rei não detinha o monopólio do poder punitivo, que se manteve inalterado até ao advento do Liberalismo. 

Bibliografia: 
CARDOSO, António Barros, Baco & Hermes – O Porto e o Comércio interno e externo dos Vinhos do Douro (1700-1756), Porto, GEHVID, 2003 
 EVOLA, Julius, Acerca da queda da ideia de Estado, in revista Lo Stato, Fev. 1934 – traduzido para a revista Boletim Evoliano, nº9, 2010 
 HESPANHA, António Manuel, As vésperas do Leviathan: Instituições e poder político -. Portugal, séc. XVII. Coimbra: Almedina, 1994 
 LOPES, Maria de Jesus dos Mártires, Nova História da Expansão Portuguesa: O Império Oriental 1660-1820, dir. Joel Serrão, A. H. de Oliveira Marques, Lisboa : Estampa, 2006 
 NEVES, José Acúrsio das. Variedades sobre objectos relativos às artes, comércio e manufacturas consideradas segundo os princípios da economia política, Ed. Afrontamento, 2008 
 VALENTE, Vasco Pulido. Os devoristas: a revolução liberal (1834-1836) / Vasco Pulido Valente. Edição: 2ª ed. Publicação, Lisboa, Estampa.